domingo, 31 de maio de 2009

PHARRAJIMOS (Holocausto Cigano)


A intolerância passada a limpo

Alemanha lança projeto pioneiro para resgatar a cultura dos ciganos na Europa, onde vivem 10 milhões deles - por Rozane Monteiro

“Em 1944, ordem dada no dia 2 de agosto foi a de destruir o ''campo cigano''. O cenário era Auschwitz, Polônia, onde 2.898 homens, mulheres e crianças ciganos foram enviados para a câmara de gás por ordem dos oficiais nazistas alemães, que já perdiam a guerra. Passados 61 anos, é a Alemanha que dá um passo pioneiro para a preservação da cultura de um grupo étnico formado por 10 milhões de pessoas espalhadas pela Europa, que sempre foi perseguido e estereotipado. Na semana passada, o premier do estado alemão Rhineland-Palatinate, Kurt Beck, e o líder dos ci ganos na região, Jacques Delfeld, assinaram um acordo que prevê, entre outros pontos de valorização da cultura do grupo, o ensino da língua cigana nas escolas estaduais.

Rhineland-Palatinate fica numa região onde havia um campo de concentração e é o primeiro estado alemão a reconhecer os ciganos (conhecidos na Europa como ''romas'') como grupo étnico no país, que tem 100 mil cidadãos com essa origem. Cerca de 10% desse total estão na área onde foi assinado o acordo, que também proíbe policiais de escreverem em seus registros criminais a palavra ''cigano'' para descrever qualquer um dos envolvidos. Ainda não há cronograma para o programa entrar em prática, mas demonstra a disposição do país para acabar com uma discriminação milenar, que começou quando os primeiros ciganos saíram da Índia, por volta do século X.

Os motivos da diáspora são até hoje desconhecidos pelos historiadores, mas sabe-se que uma das primeiras regiões a receber os migrantes foi a atual Romênia, onde há 1,8milhão de ciganos, a maior concentração de toda a Europa. Esse caráter nômade do primeiro grupo que saiu de sua terra acabou ficando como estigma, origem do preconceito de que até hoje são vítimas - atualmente, somente 5% deles ainda são nômades. Some-se a isso a cor da pele de muitos ciganos, quase sempre escura.
Esse mesmo preconceito acabou gerando um significativo desencontro nas estatísticas. Como também há ciganos brancos e como alguns grupos que se instalaram em determinados países acabaram adquirindo as características étnicas da região em que vivem, é possível para muitos deles omitirem a sua origem nos censos. Esses, sempre que precisam se identificar como cidadãos, mencionam apenas o país em que nasceram.

- Há pessoas que, simplesmente, não consideram os ciganos como pessoas. Aqui na Europa, se você quiser acabar com a carreira de alguém ou derrotar algum político, é só dar um jeito de insinuar que ele tem origem cigana - diz ao JB, por telefone, Karin Waringo, jornalista e pesquisadora nascida em Luxemburgo, especialista na cultura cigana e em políticas contra a discriminação racial.

A jornalista compara a perseguição dos nazistas aos judeus (6 milhões foram mortos) com a sofrida pelos ciganos no mesmo período (500 mil):

- O anti-semitismo mudou e e ainda está passando por transformações. Como conseqüência do reconhecimento do genocídio dos judeus o discurso anti-semita puro agora é politicamente incorreto. O genocídio contra os ciganos da Europa permanece desconhecido para a maioria dos europeus, e eles ainda trazem o mesmo estigma que os levou aos campos de concentração.
Erika Schlager, conselheira da Comissão de Segurança e Cooperação do governo americano na Europa, (a Comissão Helsinque), também é especialista na cultura cigana.

- Por algum motivo, eles achavam que os ciganos se degeneram a cada geração. Por isso, eram mais visados naqueles experimentos de esterilização que os nazistas faziam nos campos de concentração - diz.

Karin Waringo elogia o projeto alemão, mas lembra que é preciso encontrar uma saída para um outro problema educacional, muito pior, segundo ela, do que a ausência da cultura cigana nas escolas. Em vários países europeus, crianças ciganas pobres são enviadas para escolas destinadas a alunos com problemas mentais.

- As escolas convencem as famílias de que o menino ou a menina tem problemas e que naquelas escolas serão mais bem tratados. E os submetem a um questionário propositalmente mais difícil que as crianças de mesma idade e de uma cultura diferente da sua ou manipulam as respostas. Por exemplo, uma das perguntas é o que a criança faria se visse sua casa pegando fogo. A branca, de classe média, responde que chamaria os bombeiros. A cigana, que pegaria um cavalo para buscar água. É tida como problemática. É desumano. Eu diria que em países como as repúblicas Tcheca e Eslovaca e Hungria, algo entre 70% e 80% dos alunos dessas escolas são ciganos.
Anita Vlcek, estudante tcheca que acaba de encerrar sua tese ''A Integração dos Ciganos Através da Educação'', lembra outro desses ''testes psicológicos'' feitos em seu país.

- Um deles é absurdo. Isso está registrado. O professor está entrevistando a mãe e sua criança e joga uma bala no chão. A mãe não sabe que se trata de um teste, e pega a bala. Esse aluno foi rejeitado por ser ''muito lento''

- É preciso que a luta contra a discriminação seja uma prioridade, ao lado do foco na educação. É a única forma de se reverter esse quadro diz - Erika Schlager”.

Enviado por Lyanka Alexys (St° André/SP) p/ “Contra o Preconceito a Ciganos” – Comunidade do Orkut

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