domingo, 31 de maio de 2009

POESIA CIGANA









CIGANA ESTRADA poesia de Helena Rego









Sou filha do Céu e da Terra; irmã da Água e do Ar.
Sou o fogo na Floresta e a branca espuma no Mar.
Sou a Loba; sou a Selva; sou a carícia da Relva;
e a Carroça atrelada.
Sou a beira e o caminho; sou um pássaro sem ninho e
do galho mais fraquinho, todos me escutam cantar!

Sou a menina do Dia e a amante louca da Noite;
sou o alívio e o açoite, e a carne esfacelada.
Sou a abelha rainha, venha provar do meu mel, pois
Dentro do meu casulo, Você estará no céu!
Se quer que lhe deixe louco entre um beijo e uma dentada,
chame-me de tudo um pouco, mas o meu nome é Sttrada!

Na sombra, eu sou Vaga-lume; na luz, eu sou Mariposa;
sou o inseto que pousa e a lâmpada que é apagada.
Nasci para passar o Tempo e ficar um tempo parada,
mesmo que a vida insista, em me deixar estafada,
vou seguindo, sempre em frente, pois topo qualquer jogada,
todos sabem que existo, pois o meu nome é Sttrada!

Realizo a caminhada; sem precisar me cansar;
percorro vários caminhos; importante é o Caminhar.
Estou aqui, ali e acolá; o que não posso é parar.
Sou casada com o poder de sempre ser encontrada,
aceito qualquer roteiro, me chamam de caminheiro,
mas o meu nome é Sttrada!

Sou a primeira e a última, de todas as desgraçadas.
Honrada ou desprezada; vil ou simplesmente sagrada;
Sou o som e o silêncio; sou o choro e a risada.
Sou a eterna abundância; pois sempre dou importância,
para a semente lançada, num solo de doce fragrância,
pois o meu nome é Sttrada!

Sou o Rei e a Rainha; sou o súdito e o reinado;
sou a Coroa e a Forca, o Algoz e o Enforcado.
Uso a máscara da Vida, mas me confundem com a Morte.
Sou o Azar e a Sorte, e, aquela que foi dispensada.
Sou a bandeira da Paz, mas me trocam pela Guerra,
Na tirania da Terra, me vejo desapontada,
porém, quem me ama não erra, pois o meu nome é Sttrada!

Saindo de um turbilhão; alçando a torre encantada;
vejo-me como uma estrela, de Lua e Sol enfeitada.
Com certeza amanhã, estarei acompanhada,
do Anjo que é puro élan, de uma mulher coroada.
Sou a roca, sou o fio, sou tecelã afamada, na teia eu desafio
quem faça a melhor laçada, pois entre a chama e o pavio, eu tramo
a trama esperada, mesmo que seja apenas, por uma curta jornada.

Coloque-me em sua vida, como uma moça querida, que precisa ser amada;
em troca posso lhe dar, o bem maior deste mundo numa bandeja dourada.
Traga-me no coração pra me deixar encantada.
Não me esqueça e me honre com sua gentil chamada,
grite bem alto o meu nome!
Me chame, eu sou a sua "cigana estrada"!!!

Autora: Helena Rêgo - cigana Sttrada (do Clã Calon)

(em Homenagem a minha descendência cigana)

(São Paulo - SP – 1996)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.