sábado, 23 de maio de 2009

TRADIÇÃO E CULTURA CIGANA

RITOS DE PASSAGEM DOS CIGANOS – GRANDES RITUAIS

FONTE: http://web.1asphost.com/RHAYIA/index2.htm

Nascimento

Em toda tribo cigana, o nascimento de uma criança é motivo para festas, principalmente se for o primeiro filho de um casal. Para começar, todo o bebê é considerado por eles um ser muito especial, que traz ao mundo novos conhecimentos do Universo e uma mensagem de esperança para toda a humanidade. Depois, porque é sinal de continuidade e reforço da tribo. E finalmente, se for o primogênito de um casal, representa a inauguração de uma nova família nuclear. A partir de seu nascimento, o jovem pai ganha prestígio, autoridade, responsabilidade e privilégios iguais aos de qualquer outro adulto casado, mesmo que este seja muito velho. Também a mulher se beneficía com a maternidade, já que deixa de ser bori (nora) para virar mãe-o que dá mais autoridade à figura feminina. A criança será tratada com o máximo de carinho e respeito por todo o grupo, e seu nascimento merece uma longa festa de dois ou três dias. Mais tarde, ela será batizada em uma ou várias religiões. Afinal, os ciganos fazem quesrão do batismo e acreditam que ele traga sorte. Mas o ritual mais marcante é o dos nomes. Este, sim, um verdadeiro batismo cigano. Sua realização começa no momento da primeira mamada, quando a mãe sopra no ouvido da criança seu nome secreto-que ninguém mais conhecerá e só lhe será revelado no dia de seu próprio casamento. Mais tarde, nos festejos, a criança receberá um segundo nome; pelo qual ficara conhecido na tribo. Finalmente, terá também um terceiro nome, este para ser usado apenas no mundo dos gadjé (não ciganos). E assim começará a ser forjada a identidade cigana dessa criança, seu primeiro.

Casamento

Ao contrário do que se pensa, a famosa paixão e sensualidade ciganas nem sempre estão presentes no casamento de uma tribo. Na hora de formar um casal, quase sempre o romantismo dá lugar a critérios mais objetivos, como a capacidade de futura noiva para ganhar dinheiro, lendo a sorte ou vendendo ouro e miudezas. Quem a escolhe é o pai do rapaz, e a mãe dela tem direito de opinar sobre a conveniência daquela união. Os filhos também podem rejeitar a proposta., mas dificilmente o fazem. Porque primeiro respeitam os mais velhos e depois por acharem que o casamento é o maior presente que os pais dão aos filhos após lhes ter dado a vida. Nas comunidades ciganas, o celibato é malvisto. O adultério, a poligamia e o homossexualismo, totalmente intolerados. E os casamentos são rituais complexos que envolvem uma preparação especial, variando um pouco de grupo para grupo. O noivado pode durar de alguns dias a meses, o pedido de casamento é feito à família da noiva pelo pai do pretendente, que também combina o dote que será pago como compensação pela perda da moça após o casamento, ela passa a pertencer à família do marido e só poderá voltar para seus familiares se enviuvar.

Entre os ciganos sintós (quase inexistentes no Brasil), os noivos arquitetam uma fuga e, mais tarde, pedem aos pais que reconheçam a união. Quando a familia concorda, eles voltam ao grupo, realizará uma grande festa de cinco dias para o reconhecimento público do nosso casal. À chegada, porém, a noiva fujona será recebida com dois tapas no rosto um da mãe e outro do irmão. Esses tapas simbolizam o perdão e, portanto, o consentimento para aquela união. Enquanto a festa durar, alguém respeitado pelas duas famílias falará aos noivos sobre a beleza, a importância e a responsabilidade do casamento. Todas as noites haverá um baile ao redor da fogueira, e o jovem casal evitará mostrar-se junto.

Nos demais grupos ciganos, a festa dura três dias e começa com a armação de duas tendas, cada qual com uma bandeira por cima. O primeiro dia é dedicado à preparação das comidas. O segundo tem como ponto alto uma reunião na tenda da noiva e a distribuição de flores pelos noivos, começando pelos próprios pais e estendendo-se aos demais convidados. O terceiro dia é o ponto alto da festa. Acompanhado do pai empunhando uma bandeira vermelha que simboliza a honra, o noivo irá à tenda da jovem esposa, onde entrará forçando a passagem. Lá dentro, será convidado a beber com os pais dela, com quem começará um diálogo preestabelecido. À determinada altura do diálogo, a jovem será erguida acima da mesa e entregue a ele. Ambos terão suas mãos unidas por um lencinho vermelho, ao mesmo tempo que um ancião faz votos de felicidade e lhes entrega um pedaço de pão com sal, símbolo da eterna união.

No final da festa, a noiva retorna à casa dos pais. Logo, porém, haverá outra festa, mais íntima, em que ela receberá o diklo (o lencinho de cabeça usado para identificar as mulheres casadas). Só então se mudará para a casa do marido e o casamento será consumado. Um detalhe importantíssimo é a apresentação pública do lençol com a marca de sangue da primeira noite, pois entre os ciganos uma mulher que não seja virgem pode ser repudiada pelo marido.

Morte

Um cigano morreu. Sinal de que, dali para a frente, a tribo terá um intermediário entre ela e Deus. Apesar dessa importância, o morto só terá seu nome pronunciado de novo quando for totalmente indispensável e seus pertences, caso ele seja sintó, serão todos queimados. Para os ciganos, a alma de quem morre, o duho (respiro), permanece na Terra por mais quarenta dias, revisitando os lugares por onde passou, lembrando tudo que lhe fizeram e vingando-se dos inimigos. Para evitar essa "ira", todos os parentes e amigos procuram manter-se próximos, sempre que há alguém muito doente na tribo. A fim de receber quem vem de longe (e muitos vêm), é armada uma barraca ao lado de onde está o moribundo. Nesse periodo, todos falam sobre ele, procurando demonstrar afeto e gratidão por sua passagem pela Terra.

Quando enfim a morte acontece, por mais esperada que seja, todos demonstrarão surpresa, não faltando gritos, desmaios e choros. E muito pior será se, na hora da morte, o falecido não estiver segurando uma vela nas mãos, pois então corre risco de ele se perder antes de chegar ao destino final: raió (céu) ou catrano. Este último é um lugar embaixo da terra, onde a alma dos condenados é recebida por Arangeloudan (divindade que representa a justiça divina) queima em piche e lama. É para lá que vão todos aqueles que blasfemam o nome de Deus ou matam.

Ao visitar o morto (seus inimigos não devem sequer aparecer) é importante levar-lhe flores, licor e velas. A tristeza deve ser moderada e, em certo momento, todos vão passar para uma sala onde estará armado um banquete. Nessa hora, são relembrados os momentos felizes da vida do falecido e tenta-se "alegrá-lo". Em seu caixão, é colocado tudo de que ele mais gostava, e o enterro será realizado com pompa.

No terceiro dia após a morte, começa a Pomana - um ritual fúnebre cigano cujo verdadeiro significado já não é conhecido. Trata-se de uma espécie de festa, na qual se servem os pratos prediletos do morto e seu lugar à mesa fica reservado. Não é permitido se embriagar e a tristeza deve ser moderada. A Pomana acalma o espírito e precisa repetir-se no terceiro, sétimo ou no nono e quadrágésimo dias após a morte. Depois de seis meses e no primeiro aniversário também. Muitos grupos ciganos costumam guardar luto até a terceira Pomana, ou mais, se quem morreu foi uma criança. Daí, todos se vestem de preto, não se bebe, há constantes visitas ao cemitério e os homens não fazem a barba.

Já outras comunidades ciganas têm costume apenas de, no quadragésimo dia, jogar uma vela e pão na água corrente. Se eles forem embora, é sinal de que a alma foi liberada para seguir seu destino. Senão, nada mais há a fazer.

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