segunda-feira, 15 de junho de 2009

PALAVRAS CIGANAS




Antropólogo, Lingüista, Escritor e Músico entre outras atividades, o cigano barô-sintó Nicolas Ramanush, estará lançando neste sábado dia 20 de junho, às 19 horas, no Restaurante Parrilha/SP, seu mais novo livro: PALAVRAS CIGANAS - vocabulário e gramática sintética do romaní-sinti.



Quem quiser adquirir essa raríssima obra, com o autógrafo do autor; além de assistir a uma bela palestra sobre o assunto e também a uma apresentação de música e dança cigana com a Vitza Ramanush é só chegar no endereço acima.


Professor convidado nos cursos de pós-graduação e extensão cultural de várias escolas e universidades, o também Professor cigano tem um vasto currículo e notório saber, além de ser o presidente da:

EMBAIXADA CIGANA DO BRASIL PHRALIPEN ROMANI, (BRASIL)
Site: http://www.embaixadacigana.com.br/index.htm
E-mail: nicolasramanush@ig.com.br
Tel: (55+11) 9743-2449



ROMANI, NOSSA LÍNGUA É NOSSA PÁTRIA
por Nicolas Ramanush

A língua romani é relativa a um complexo de dialetos falados por diversos clãs ciganos de diferentes países, e que pertencem à família indo-européia, ramo indo-irânico, sub-ramo indo-árico, grupo sânscrito.

História

A língua romani está relacionada com as línguas indo-arianas setentrionais, sendo falada nos cinco continentes por ciganos de diversos clãs. A maior concentração de falantes da língua romani ocorre na Europa oriental.E pelo fato de ser língua de um povo minoritário e marginalizado tem recebido pouco
reconhecimento legal.

Os dialetos romani são falados desde a Europa ocidental até a Índia pelos diversos clãs ciganos.

Seus dialetos têm muitos empréstimos das línguas faladas nas regiões por onde passaram,ainda que retenham suas características básicas índicas e vocabulário. Sobre este corpo central índico, do qual sobrevivem talvez umas 900 palavras no romani moderno, encontramos ainda mais ou menos 120 palavras de origem curda e persa,em torno de 500 palavras do armênio e somente poucas do grego bizantino, sendo que o grego bizantino colaborou com cerca de 250 palavras,mas forneceu a maior parte do modelo gramatical.

Sabe-se que no romani atual existem apenas umas poucas palavras de origem burushaski, e ao menos algumas de origem mongol, servem de ajuda para traçarmos a rota migratória dos ciganos originais.O burushaski é falado no extremo norte do Hindu Kush, onde as únicas saídas da Índia são Shandur e Baroghil. A língua mongol poderia somente ter-se situado no Cáucaso meridional e no noroeste da Pérsia em uma faixa posterior a 1250 d.C, quando a Horda de Ouro ocupou esta zona. Resulta também que as palavras mais antigas em romani não sofreram uma influência substancial nem do árabe nem do turco. A partir destes dados podemos colocar como hipóteses que a migração da Índia ocorreu entre os anos de 1000 e 1027 da nossa era. Procedentes do extremo norte da Índia, se dirigiram quase que diretamente do oeste da costa meridional do mar Cáspio e em continuação seguiram a costa oeste em direção ao do Cáucaso e, desde ali, diretamente ao oeste da costa setentrional da atual Turquia,para continuar ao largo da costa do mar Negro até os Dardâicos e, dali, através dos Bálcãs europeus onde chegaram aproximadamente entre 1250 e 1300. Existe uma teoria muito firme de que a população original se havia dividido em três, antes que alcançassem à Europa, formando os atuais povos romani-europeu, domare-sírio e lovare-armênio.

Os primeiros documentos conhecidos da língua romani datam de 1542, na Grã Bretanha, se bem que devemos levar em conta que o lingüista encarregado de registrá-la, Andrew Boorde, pensou que se tratava de língua egípcia, por que a descreveu como uma descrição do egípcio. Até o presente momento temos tão somente localizados outros quatro ou cinco exemplos deste primeiro período. Os textos mais extensos só começaram a aparecer no século XIX, estes consistiam principalmente de re-compilação de listas de vocabulário, contos populares e traduções do Evangelho.

Devido à sua complexidade lingüística, os falantes do romani não utilizaram nenhum dos alfabetos índicos, e nem deixou sua categoria de língua ágrafa até o século XX(exceto professores de origem cigana, que falavam o romani, que já a escreviam). A maioria dos sistemas de escrita utilizados se baseiam na ortografia nacional do país em que esteja sendo falada a variante do romani em particular, embora seja um sistema de base eslava, que utiliza o acento em forma de cunha, o que tem maior aceitação. Desde os anos 80, a Comissão Lingüística da União Romani Internacional vem disseminando uma ortografia de padrão internacional , com um número cada vez maior de publicações que a utilizam. Depois de sua chegada à Europa, a população original começou a fragmentar-se quase que imediatamente.

Um número significativo ficou nos Bálcãs, onde já haviam sido escravizados ( na Moldávia e na Valáquia) em meados do século XIV. Esta situação (a escravidão) surgiu devido a necessidade de fazer uso de seus conhecimentos (sobretudo na forja dos metais) dentro de uma economia danificada pelas sucessivas guerras, e sua abolição não ocorreu até a metade do século XIX. Em conseqüência, o romani no decorrer desses séculos evoluiu em estreito contato lingüístico com o romeno e, em menor medida, com o húngaro e o eslavo. Assim foi que se converteu em um grupo dialetal diferente dentro da língua que hoje conhecemos como “vlax” (ou seja, Valáquio) .Mas nem toda a população original foi escravizada, o processo de emigração continuou para o norte em direção a Europa, espalhando-se gradativamente e atingindo a totalidade do continente em 1500.

Todavia o romani apresenta uma relação muito estreita com o híndi e com outras línguas indianas norte-ocidentais, também sua fonologia central tem influências do dárdico (especialmente o phalura – falada na Caxemira, Paquistão e Afeganistão), do armênio e do grego; ademais, os dialetos pós-bizantinos apresentam interferências em todas as áreas das línguas européias circundantes.

Originariamente os dialetos romani se dividiram em “vlax” e “não-vlax”, embora hoje em dia se reconheçam três (ou quem sabe cinco) ramos principais, cada um com suas correspondentes divisões: no total, temos registrados uns 60 dialetos distintos. Em alguns países, especialmente Grã Bretanha e Espanha, o romani sofreu uma reestruturação: conta com um corpo de unidades lexicais em romani introduzidas em um marco fonológico e gramatical da língua nacional, no inglês e no espanhol.

A afinidade lingüística fundamental do romani está ainda sob estudos científicos para ser comprovada.

Em seu léxico e fonologia em particular, mostra um núcleo centro-indiano,mas é maior a presença do indo-norteocidental e, até certo ponto, do dárdico. Estes indícios lingüísticos vêm avaliar a teoria mais atual sobre a origem deste povo, pelo que seus antecessores descenderam de um amálgama de povos unidos como uma força militar no princípio do século XI, com a finalidade de resistir as invasões islâmicas dirigidas por Mohammed de Ghazni. A história sugere que os membros que constituíam este exército,conhecido como rajputs, foram captados intencionalmente da população não-ariana, especialmente pelos dravidianos (de fala ariana, da casta Sudra) e os pratihara (gurjaras descendentes do clã rajputs) que haviam se assentado no norte da Índia procedentes do noroeste e que estavam relacionados com os alanos (que viviam no nordeste do Cáucaso) osetios (que viviam ao norte do Cáucaso) . Uma proposta mais recente aponta para a consideração de um elemento africano oriental que pode remontar-se aos sindis ou aos africanos, que foram introduzidos como mercenários pelos exércitos mulçumanos e hindus para lutarem em ambos os lados.

Se estima que existem entre 6 e 10 milhões de falantes romani no mundo,sendo as variantes mais numerosas a “vlax” e o romani balcânico.

Não é fácil delimitar a fronteira entre um falante de romani e um cigano falante de outra língua (normalmente a da população maioritária), pois o léxico estará fortemente influenciado pelo romani, de fato o romani tem sido usado para criar linguagens secretas, incompreensíveis para o resto da população.

Apesar de ter vivido no Ocidente durante mais de 800 anos, a população cigana segue sendo basicamente asiática,pois fala uma língua asiática através da qual se tem expressado a cultura romani e sua visão do mundo.

De fato, para uma população perseguida entre 9 e 12 milhões, dos quais ao menos a metade fala variantes do romani, a manutenção e o cultivo da literatura resulta em vital para a sua sobrevivência, tanto política como étnica.

Variantes Romani

A língua romani se divide em três grandes línguas variantes, que não são mutuamente inteligíveis:

1-Romani Sírio ( ou asiático).
2-Romani Armênio ( ou Boka ).
3-Romani Europeu, este que é subdividido em
-Russo setentrional (rúska romá, xoladítka romá).
-Romani da Letônia (lotfítka romá), Letonia ocidental e Estônia.
-Romani Polaco -central (pólska foldítka romá).
-Romani Laius (lajenge romá), falado antiguamente na cidade de Laius, na Estônia oriental, porém todos os falantes deste dialeto foram assassinados pelos nazistas durante a II Guerra Mundial.

-Romani Germano (sintí, sasítko romá), na Alemanha, França, Polônia, Chéquia, antiga Iuguslávia, norte da Itália, Áustria e algumas famílias da antiga Rússia.

-Romani Cárpata:
-Romani Eslovaco (sórvika romá), no norte e leste da Eslováquia.
-Romani Húngara (úngrike romá), na Eslováquia meridional, Hungria setentrional e alguns falantes na antiga Russia em consequencia do deslocamento de fronteiras depois da Ii Guerra Mundial.

-Romani Balcánico:
-Romani Jerlídes, na Bulgaria ocidental, Macedônia e Sérvia meridional.
-Romani Ursári, na Romênia e Moldávia.
-Romani Chache, na Romênia e Moldávia.
-Romani Crimêo (koromítika romá), na Criméia.
-Romani Drindári, na Bulgaria central.

-Romani Vlax, na Valáquia:
-Romani Lindurári – Zlotári - Kokavjári – Kalderas (até meados do século XIX circunscrito à fronteira húngaro-romana, mas agora espalhado por toda a Europa e na América.

-Romani Lovári,em muitos paises europeus e nos Estados Unidos da América do Norte.
-Romani Gurbéti, na Bósnia e Ezergovina.

-Romani Ucraniano:
Os ciganos que vivem às margens do rio Dniépre
-Romani Finês (fintike róma)
-Romani Galês (volchononge kaló)

As principais variantes do romani que são encontradas em literatura são:
O setentrional, cujo principal representante é o romani-russo;
O central , cujo principal representante é o romani-húngaro-eslovaco;
O “vlax”, cujo representante máximo é o romani- kalderash;
E o romani-balcânico, no qual se destacam os diversos dialetos macedônicos.
Entre todos, é o kalderash que está se convertendo em alfabeto internacional na falta de uma alternativa viavel, pois é o que ocupa uma maior extensão geográfica e que conta com um número maior de falantes (por volta de 2 milhões e meio). O romani comum ou internacional tem sido disseminado a partir do romani-vlax, se bem que recorre a outros dialetos quando necessita de palavras ou regras gramaticais já perdidas no grupo vlax, como por exemplo RUKH - árvore, substituído por KAST madeira em vlax, ou TABLO - quente / TATICÓSO em vlax (que significa calor , mas é um morfema modificador de origem romena).

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